terça-feira, 13 de março de 2012

Nota sobre algumas “culturas” do karate.



Vou começar este post com algumas perguntas:

1. Qual a origem do karate?

Japão!

Certo e errado, pois há uma controvérsia.
Apesar do karate ser considerado uma arte-marcial japonesa, pode dizer que sua origem mais precisa vem da cultura OKINAWANA. Outra, a cultura okinawana tem forte influencia da cultura chinesa. Isto é visível nos nomes de alguns katas que usam a leitura chinesa ao invés da japonesa*.

2. Para praticar karate devo ajaponesar-me?

CLARO QUE NÃO!

3. Então o karate que pratico deve ser totalmente japonês e dentro do dojo devo fazer tudo o que um japonês faz e o sensei que não me cobrar isto é um impostor?

Não, terminantemente, não!

Vou completar esta resposta com uma pergunta: Em que mundo tu acha vive?

Nestes meus quase 20 anos de karate, vi tanta, mas tanta coisa que eu me pergunto: Por que diabos eu fui praticar karate? Por que diabos eu fui ser descendente de japoneses? Por que diabos eu, quando morava no Bonfim**, não fui praticar Krav Magav?!!

Outro dia entrei num Dojo ai de um de “tantos Dans”. A criatura fazia cada um que entrava no “tradicional Dojo" dele, passar paninho no chão. Só que no meu ponto de vista isto foi feito como um ritual místico imposto e de forma automática de cima para baixo, me pareceu mais um teatrinho para aparecer ou chamar a atenção.

Em primeiro lugar, desde que o Japão é Japão que se limpa o chão da casa assim. Não é só no Dojo, é nas escolas, é nos clubes, é nos mosteiros, etc. Nos mosteiros budistas japoneses esta prática é conhecida como SAMU. Muitas casas no Japão tinham piso de madeira e a maneira mais eficiente de limpar é passando pano úmido no piso, alem de limpar esta pratica também lustrava a madeira***.

Em segundo lugar, vou te dizer por que o japonês faz todos os alunos do Dojo limpar o chão.

Praticidade!!!

Por que um deve fazer se dez fazem mais rápido?

Outra, limpar o local de treino é uma forma de demonstrar gratidão ao Dojo.

O povo japonês vê a sociedade, o grupo, como um todo. Como falei em outro post: se é bom para o outro, é bom pra mim também. Se cada um faz sua parte, todos se beneficiam.
Não é fazendo todo este teatro que o aluno vai se tornar mais ou menos respeitoso com Dojo. Não é esta imposição de “cultura”, de respeito, que vai fazer o aluno ser mais humilde. O aluno tem que entender que isto é bom para ele, bom para os colegas e bom para o Dojo. Nada mais justo para com o lugar a onde adquirimos tanto conhecimento ter o cuidado com ele. Não vai cair o braço do karateka se ele limpar nem que seja uma placa de tatame. 

É muita purpurina pra pouca pratica!!! NÃO COMPLIQUEM O QUE É SIMPLES!!!!!

O karate é praticar, praticar, praticar, é aprender, aprender, aprender. O primeiro então que deve pegar o pano e limpar o chão é o sensei, exatamente para mostrar humildade. Para ser exemplo!

Eu me admirei uma vez quando entrei no Dojo e vi que meu sensei (5º Dan) estava com um esfregão na mão. Chamam-no de burro, velho teimoso, grosso, turrão, louco, cricri, mas esta lição o xarope aprendeu. Enquanto uns e outros estão por ai numa “masturbação mental” do que deve ou não fazer, do que é ou não BUDO, o meu sensei xarope vai lá e pega um esfregão para limpar o Dojo. E assim ele me mostra é mais BUDO do que esta gente que fica pavoneando por ai. Eu vejo tanto 6º Dan, 5º Dan, soberbo, arrotador de filosofia por ai, que eu sinto realmente um pesar muito grande por estas criaturas terem achado o caminho do karate. 

Outra coisa que queria colocar aqui: em minha opinião, o karate já não é mais um patrimônio exclusivo do Japão, o karate é um patrimônio de todos os karatekas do mundo. Já não posso dizer que o karate é 100% japonês (suas origens sim são okinawanas), mas sim uma porcentagem árabe, outra européia, outra africana, americana, etc. Se pratica karate no mundo todo. Cada povo tem seus costumes, seus hábitos, e estes não vão se tornar japoneses (ou okinawanos) só porque resolveram praticar karate. Não queira que um muçulmano deixe reverenciar Alá para reverenciar os Mestres de karate, muitos não o farão por ir contra ao preceito do Islã de não cultuar ídolos, somente a Alá. Não é em todo o país que se vai conseguir impor a cultura do karate tal como os mais tradicionalistas acham que deve ser.

O karateka tem que aprender as origens da arte que pratica, e não ficar como um macaco de picadeiro, só porque “no Japão se faz assim”. Não é fazer teatro como muitos fazem, é entender o POR QUÊ. Não precisa virar japonês honorário não.

Quer fazer como os japoneses? Quer usar kimono e hawaiana de pau e comer sushi de palitinho? Quer ter o kamidama? Então o faça! Mas por tudo que é mais sagrado, faça para si mesmo. Não para se gabar, não para se mostrar, não para se exibir e tentar provar que é melhor do que os outros. Faça isto pela sua paz de espírito e pela paz do espírito de meus ancestrais (que se tivessem corpos ainda estriam se revirando no caixão****). Faça isto para si mesmo por realmente se identificar.

No karate a gente deve conhecer a si mesmo.

* kumiyomi e oyomi (antes que me corrijam, ainda vou conferir se é assim que escreve), são os sons de kanji de origem chinesa e japonesa;

** O bairo Bonfim é considerado o mais Judeu de Porto Alegre, morei por lá;

*** Meu pai sempre comentou este habito que os japoneses tem de esfregar o chão, os pisos das casas japonesas eram feitas de uma tal madeira que somente passando um pano úmido ela adquire brilho;

**** "se eles tivessem corpos", pois os japoneses após a morte, a maioria, é cremada.

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